30 de jan. de 2011

Grito de um filho africano Por Adan Costa


Ó mãe África
De crucificação
Escarnecem do negro de minha pele
De meus dialetos, sotaques
Eu que carrego cravado na tez
Todas as tuas memórias
De restos, osso,
Farelo e água

Ó mãe África
De contrastes
De quilates de sangue
De fartura de fome
De iniqüidades

De esqueletos que teima
Em ter vida
Dessa persistência
Que nos torna fortes

Ó mãe África
De crueldade
De alforriados em jaulas
De crianças que empunham armas
De homens que vendem suas almas
Por pratos de comida
Do barro que lhe farta a barriga
Do lixo que os mantêm em vida

Ó mãe África
De clemência
Escute meu grito de suplicio
Afague meu coração menino
Derrame em chuva meu pranto
Meu sangue em seiva
Para nutrir-lhe a carne.

28 de jan. de 2011

Lagrima, Sangue, Arte


Amanhã quando cedo chegares
Não me beije a face
Não me conte mentiras
Dizendo-as verdade

Antes de com a lâmina
Cortar meus pulsos
Dilacerar-me a carne


                                          Não me olhe nos olhos
                                          Deixe-me em sangue, lágrima, arte
                                          Morro metade

                                          Se um dia me quiseres
                                          Queira-me por inteiro
                                          Mesmo que metade te baste
                                          Pra que meu peito seja pleno
                                                     Jardim vazio, pastagem.

27 de jan. de 2011

Flor saudade


Cálida flor sem vaidade
Já sem o viço natural da idade
Branca flor, sem castidade

Tu que choras por amar tempestade
As noites de frio leito, saudade
De segundos infindos
Catando moinhos, felicidade

Quando cá estiveres, flor
Pises manso
Beijo-te a tez e
Afago teu coração
De amar solitário

11 de jan. de 2011

15 minutos

Saudade do tempo em que 15 minutos duravam uma eternidade
Onde cabia tanta prosa
Tanta estória
Tanta memoria

...Hoje a luz me conforta
com alguma tecnologia remota
encurtando a distância
entre você e minha solidão

7 de jan. de 2011

Chuva das 14h

 
e a chuva cai...
apagando os rastros...
lavando as memorias...
inundando cá dentro...
transbordando o pensamento
dessa poesia simples que me serve...

gotas de felicidade,
que descuidadas caem do céu
pra habitar o leito imenso de nostalgia
terna, que tenho dos meus infindos
sonhos juvenis

6 de jan. de 2011

Ensaios antropofágicos III


Não
Não quero mais
Sonhar o sonho de quem sonha um sonho
Que não é o meu

Quero voltar a ser livre
Na Jaula que me criaram
Cativo de teus beijo etilícos
Que me embreagam

Quero voltar a encher meus pulmões
De densa fumaça da nicotina
Carvão que me envenena
Me mata

Quero poder voltar a ter Fé
N'alguma coisa que acalme a alma

3 de jan. de 2011

República


Vejo a cidade de um finissimo ramo
vejo carros, caros, caos
Ouço motores, gritos
Rádios que teimam e não parar de tocar
Me sufoco
caos urbano
que eu respiro e me enveneno
envenenando cada gota de alegria que me vem ao rosto.
Rosto esse que se desfigura a cada relânpago
de odio e sofrimento
Quem se sente seguro nesse mundinho fantasiado de novela?
nossa justiça e falha
nossas verdades são distorcidas pelo simples capricho de mudar
nossas vidas são manipuladas
nossos desejos são futeis

15/11/2006